quarta-feira, 27 de abril de 2011

Deepak Chopra - As Sete Leis Espirituais do Ioga


     "2. QUESTÕES DA ALMA

Nada do que existe aqui em baixo é profano para aqueles que sabem ver. Pelo contrário, tudo é sagrado. Pierre Teilhard de Chardin.


Normalmente considera-se que a filosofia ioga foi fundada pelo lendário sábio Maharishi Patanjali, cuja vida está envolta na bruma de mitos e histórias. Segundo uma dessas histórias, a sua mãe Gonnika, estava a rezar ao Deus Vishnu, o deus que mantém o universo, para que lhe desse um filho. Vishnu ficou tão comovido com a sua pureza e devoção que pediu à sua amada serpente cósmica, Ananta, que se preparasse para uma incarnação humana. Uma pequena parte do corpo celestial de Ananta caiu para as palmas das mãos de Gannika, erguidas para o céu. Cuidou daquela semente cosmica com todo o amor, até que ela se transformou numa criança. Deu ao bebé o nome de Patanjali, que vinha da palavra pat que significa "descido dos céus", e anjali, o nome da sua postura de oração. Foi aquele ser, cuja vida os historiadores datam de dois séculos antes do nascimento de Cristo, que elaborou os princípios do ioga, para benefício de toda a humanidade.

No seu clássico, Yoga Sutras, Patanjali define o objectivo do ioga: a libertação total do sofrimento. Para conseguir atingir esse fim meritório, Patanjali definiu os oito ramos do ioga. (...)

Segundo Patanjali, sempre que nos identificamos apenas com o nosso ego, ligamo-nos a coisas que não têm uma realidade permanente. Pode ser um apego a uma relação, a um emprego, a um corpo ou a um bem material. Pode ser um apego a uma convicção ou a uma ideia de como as coisas deveriam ser. Independentemente da natureza do objecto do nosso apego, a associação da nossa identidade a algo que reside no mundo das formas e dos fenómenos é a semente que causa angústia, infelicidade e doença. Ter sempre presente que o verdadeiro eu não está preso num corpo pelo tempo que dura uma vida é o segredo para uma liberdade e alegria verdadeiras. 
Através da prática do programa das Sete Leis Espirituais do Ioga, podemos sentir toda esta sequência - da tranquilidade para a actividade e de novo para a tranquilidade.

A filosofia do ioga começa no espírito. O verdadeiro objectivo do ioga é pôr-nos em contacto com o nosso espírito. É algo que acontece naturalmente quando a mente se acalma e conseguimos aceder à sabedoria interior que emerge do aspecto mais profundo do nosso ser. Uma das formas de entrarmos em contacto com a nossa alma é afzendo conscientemente a nós próprios perguntas que vão ao cerne da experiência humana. Há três perguntas fundamentais que ajudam a deslocar o ponto de referência interior do ego para espírito, a saber:
Quem sou eu?
O que quero?
Como posso ser útil?

(...) Se trouxermos regularmente para o nível do nosso consciente as respostas a estas perguntas, estaremos despertos para as oportunidades que vão de encontro às necessidades da nossa alma. (...) Embora tenhamos todos tendência para nos identificarmos através de papéis, objectos ou relações que fazem parte das nossas vidas, o ioga encoraja-nos a ir mais fundo naquilo que somos e a procurarmos aquele ponto interior que está para lá de qualquer âncora exterior. É essa a fonte de toda a energia e de toda a criatividade da vida. Quando começamos a reconhecer que a nossa natureza essencial é limitada e eterna, a vida torna-se alegre, despreocupada e ganha significado.
Experimente fazer este simples exercício para tomar consciência de qual é actualmente  seu ponto de referência interior. Feche os olhos, respire profunda e lentamente e centre a sua atenção na zona do coração. A seguir pergunte a si próprio em silêncio: "Quem sou eu?" de quinze em quinze segundos. Escute inocentemente as respostas que vêm da sua mente profunda. (...)

A segunda pergunta, "O que quero?", leva-nos mais longe. Nos Upanishades, uma das jóias da coroa da literatura védica, pode ler-se: "As pessoas são aquilo que os seus desejos mais profundos são. Como for a sua vontade, assim serão os seus actos. Como forem os seus actos, assim será o seu destino." Sabendo o que uma pessoa deseja, conhecemos a essência dessa pessoa. Para ficar a conhecer melhor os seus desejos mais profundos, fche os olhos e pergunte a si própriode quinze em quinze segundos: O que quero? O que quero realmente? Diferentes níveis do nosso ser dão origem a desejos diferentes. O nosso corpo físico tem necessidades intrínsecas de comida, água, oxigénio e prazer sexual. (...) O nosso corpo subtil tem necessidade de ligações emocionais, realização e reconhecimento. (...) O nosso corpo causal necessita de expressão criativa e renovação.(...)

Uma viagem espiritual comporta a satisfação das necessidades da carne, das necessiadades da mente e das necessidades do espírito. (...) Escute as respostas que vêm de dentro de si e anote-as. Vá vendo, ao longo do tempo, os seus desejos serem satisfeitos ou transformados em expressões diferentes. Num caso ou noutro, novos desejos surgirão para preencher o vazio. Tome consciência das forças que determinam as suas escolhas e chegará mais perto da sua natureza essencial. (...)

À medida que vai ficando mais consciente da sua identidade e dos seus desejos, faça a si próprio a terceira pergunta: "Como posso ser útil? Como posso servir? Como posso ajudar? Qual o melhor serviço que posso prestar?" (...) Com a expansão do nosso sentido do eu, também a nossa compaixão aumenta, até que descobrimos em nós uma preocupação natural com a forma como as nossas escolhas afectam os que nos rodeiam. (...)

O verdadeiro objectivo do ioga é descobrir o aspecto do nosso ser que nunca poderá perder-se.(...) Os nossos pensamentos, crenças, expectativas, objectivos e experiências podem aparecer e desaparecer, mas aquele que vive todas essas experiências permanece inalterável. 

À medida que vai progredindo na sua prática do progama, acabará por descobrir que as respostas às perguntas "Quem sou eu?", "O que quero?" e "Como posso ser útil?", vêm de uma camada mais profunda do seu ser. Acabará por descobrir que o seu sentido de identidade está a mudar e a reflectir uma visão mais abrangente do seu eu. Acabará por descobrir que os seus desejos estão a ficar menos pessoais.(...) Acabará por descobrir um desejo cada vez maior de contribuir para a sua comunidade e para o mundo. Essa expansão da consciência do eu é a essência do ioga." 

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