quinta-feira, 9 de junho de 2011

Deepak Chopra - As Sete Leis Espirituais do Ioga

"O Segundo Ramo do Yoga - Niyama

O segundo ramo do Yoga definido por Patanjali é o Niyama, habitualmente interpretado como "conjunto de regras de comportamento pessoal". Entendemo-las como as qualidades naturalmente expressas numa personalidade em evolução. (...) Os Niyamas do Yoga encorajam: 1 - a pureza; 2 - o contentamento; 3 - a disciplina; 4 - a exploraçã do domínio espiritual; 5 - a entrega ao divino.




Tal como a conduta social ideal, também as qualidades evolutivas das pessoas advêm da nossa ligação ao espírito. Se nos centrarmos exclusivamente no primeiro Niyama, a pureza ou Shoucha, não acrescentamos valor à vida, se essa atitude nos servir apenas para desenvolvermos um quadro mental valorativo; (...). O nosso corpo e a nossa mente são construídos a partir das impressões que recebemos do mundo que nos rodeia. Os sons, as sensações, os sabores e os cheiros transportam energia e informações que são metabolizados dentro de nós. O Yoga encoraja-nos a escolhermos conscientemente experiências que alimentem o nosso corpo, a nossa mente e a nossa alma. 

O contentamento, ou Santosha, o segundo Niyama, é a fragância da consciência do momento presente. (...)
Santosha é a ausência de dependência em relação ao poder, às sensações e à segurança. Através da prática do Yoga, a nossa experiência do momento presente aquieta a turbulência mental que perturba o contentamento - contentamento esse que reflecte um estado do ser em que a paz é independente das situações e das circunstâncias em que nos encontramos.

O terceiro Niyama tem a designação de Tapas, habitualmente traduzido por "disciplina" ou "austeridade". A palavra tapas significa "fogo". Quando o fogo da vida de um yogui arde com intensidade, torna-se um raio de luz que irradia equilíbrio e paz para o mundo. O fogo também é responsável pela alimentação e pela toxicidade. Um fogo interior saudável pode metabolizar todas as impurezas. 


Muitas vezes as pessoa associam disciplina a privação. (...) Tapas significa adoptar a mudança como via oara um nível de consciência superior.

O auto-estudo, ou Svadhyana, é o quarto Niyama. É tradicionalmente interpretado como sendo dedicado ao estudo da literatura espiritual, mas, na sua essência, auto-estudo significa olhar para dentro. Há uma diferença entre conhecimento e sabedoria. (...) O auto-estudo encoraja-nos a eleger como ponto de referência nós próprios e não os objectos externos. (...) Quando a nossa consciência está bem desperta para o svadhyana, a alegria brota de dentro de nós em vez de estar dependente de coisas que realizamos ou adquirimos.

O último Niyama, Ishwara-Pranidhana, traduz-se muitas vezes por "fé" ou "entrega a Deus". Ishwara é o aspecto da personalidade do infinito. (...) Ishwara é a designação que nos familiariza com o campo do infinito e ilimitado da inteligência. Em última análise, Ishwara-Pranidhana significa rendermo-nos à sabedoria da incerteza. Lançarmos as sementes da sabedoria quando nos rendemos ao desconhecido. (...) A verdadeira transformação, cura e criatividade fluem da consciência do momento presente, o que significa abandonarmos o nosso apego ao passado e abraçarmos a incerteza. (...)

Os Yamas e Niyamas representam diálogo interior de um Yogui. Não são qualidades que se possa fingir ter ou que possam ser manipuladas. Surgem espontaneamente como expressão natural de um sentido mais amplo do eu. Podemos vê-las como marcas do nosso progresso espiritual. Devemos deixá-las reverberar no nosso estado de consciência, evitando o impulso de nos criticarmos ou julgarmos a nós próprios se, por vezes, não conseguirmos expressar o vaor mais elevado de cada um destes princípios."

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tinashé - Zambezi (ao Mbira)


Deepak Chopra - As Sete Leis Espirituais do Ioga

"3. O CAMINHO REAL PARA A UNIÃO

Em atitude de silêncio, a alma encontra o caminho sob uma luz mais clara, e tudo o que for esquivo e ilusório surge com a clareza do cristal. Mahatma Gandhi

(...)
Maharishi Patanjali definiu os oito ramos do Yoga - Yama, Niyama, Asana, Pranayama, Pratyahara, Dharana, Dhyana e Samadhi. Por vezes são designados por oito membros (ashtanga) do Yoga, mas não devem ser vistos como estádios sequenciais. Constituem antes diferentes pontos de entrada para um sentido alargado do eu através de interpretações, escolhas e experiências que nos lembram a nossa natureza essencial. São estes os componentes do Raja Yoga, o caminho real para a união. (...)

O Primeiro Ramo do Yoga - Yama
Yama é habitualmente traduzido como "conjunto de regras de comportamento social". São as linhas universais de orientação para o convívio com os outros. As características mais vulgarmente referidas dos Yamas são:
1. Praticam a não-violência
2. Dizem a verdade
3. Treinam o controlo sexual
4. São honestos
5. São generosos

Todas as tradições espirituais e religiosas estimulam as pessoas a viverem uma vida guiada por princípios éticos. O Yoga concorda com esta ideia, mas reconhece que, no que respeita à moral, é difícil viver uma vida em perfeita harmonia com o mundo que nos rodeia - através de um conjunto definito de "deves" e "não deves". Patanjali descreve os Yamas como o comportamento espontaneamente evolutivo de um ser iluminado.

(...)  Aderimos às regras de conducta social, porque estamos a agir com base num nível espontâneo de acção correcta. Este estado de agir de acordo com as  leis da natureza designa-se por Kriya Shakti. Embora as palavras do sânscrito Kriya e Karma signifiquem ambas "acção", Kriya é a acção que não gera reacção, por oposição a Karma, que gera automaticamente consequências proporcionais. Não há consequências pessoais quando agimos ao nível do Kriya Shakti, porque não geramos qualquer resistência.(...)

Agindo a partir deste nível da alma, não conseguimos ser violentos, porque todo o nosso ser está em paz. É esta a essência do primeiro Yama conhecido em sânscrito por ahimsa. Os nossos pensamentos são não-violentos, as nossas palavras são não-violentas e os nossos actos são não-violentos. Não pode haver violência, porque o nosso coração e a nossa mente estão cheios de amor e compaixão pela condição humana. Mahatma Gandhi foi o grande praticante do princípio da não-violência no movimento da independência da Índia e da Grã-Bretanha. (...)"Se expressarmos o nosso amor de maneira a que ele cause uma impressão indelével sobre o alegado inimigo, ele terá de nos devolver esse amor... e isso requer uma coragem muito maior do que a que é necessária para desferir um golpe."

O segundo Yama é a autenticidade ou sata. A autenticidade provém de um estado que nos permite distinguir as nossas observações das nossas interpretações. Aceitamos o mundo tal como é, reconhecendo que a realidade é um acto selectivo de atenção e interpretação. (...) Patanjali definiu verdade como a integridade do pensamento, da palavra e da acção. Dizemos a verdade e somos inerentemente honestos, pois a verdade é uma expressão do nosso compromisso para com uma vida espiritual. O desconforto que advém do facto de trairmos a nossa integridade não justifica os benefícios imediatos da distorção da verdade. Em última análise, reconhecemos que a verdade, o Amor e Deus são expressões diferentes de uma mesma realidade não diferenciada.

Brahmacharya, o terceiro Yama, é muitas vezes designado por "celibato". Para nós, é uma visão limitada deste Yama. A palavra vem de achara, que significa "caminho", e brahman, que significa "consciência da unidade". Na sociedade vêdica, as pessoas escolhiam tradicionalmente um de dois caminhos para a luz - o caminho de constituir família ou o caminho da renúncia. Para os que escolhem o caminho de monges ou monjas, o caminho para a consciência da unidade incluía naturalmente o abandono da actividade sexual. Para a maioria das pessoas que escolhiam o caminho de construir família, brahmacharya significava abraçar uma forma saudável de exprimir a sua energia sexual. Uma das interpretações da palavra charya é "apascentar", o que sugere uma conotação de brahmacharya com a ideia de partilhar do sagrado através das diversas actividades da nossa vida quotidiana.

O poder criador essencial do universo é sexual, e todos nós somos um manifestação dessa energia. (...) Brahmacharya significa alinharmo-nos com a energia criador do cosmos. (...)

O quarto Yama, asteya, ou honestidade, significa renunciar à ideia de que as coisas exteriores nos podem proporcionar segurança ou felicidade. Asteya significa atingir um estado de desapego. A falta de honestidade deriva quase sempre do medo de perder - perder dinheiro, amor, estatuto, poder. A capacidade de viver honestamente assenta numa profunda ligação ao espírito. Quando o que predomina é a plenitude interior, perde-se a necessidade de manipular, dissimular ou enganar. (...)


O quinto Yama, generosidade, ou aparigraha, resulta da alteração do ponto de referência interior de predominantemente centrado no ego para centrado sobretudo no espírito.  (...) Este Yama implica a ausência de aversão. Quando se atinge o aparigraha, o apego à acumulação de bens materiais deixa de encontrar terreno dentro de nós. Não significa que não desfrutemos do mundo; só que não somos prisioneiros dele. A prática de Yoga, que cultiva uma atenção expandida, desperta a generosidade, porque a natureza é generosa."